A Encarnação de Deus

Sempre que nos concentramos profunda e intensamente em meditação ou oração, naturalmente nos desapegamos e nos elevamos. É como se o peso ou a densidade do corpo fossem afrouxados pelo poder do veículo da mente. Nossa percepção sutil pode então se desdobrar e viajar para dimensões mais sutis, onde ocorrem experiências transcendentais. Nós ascendemos – mesmo que apenas por um período temporário. Quanto mais praticamos, mais fácil fica, já que nossos campos mentais são fortalecidos pela luz e poder recebidos no encontro espiritual. Podemos ter essas experiências quando estamos em um estado que podemos chamar de “estágio sem corpo”.

Nesse ponto, não há mais distrações, a alma está totalmente envolvida e imersa na experiência e a mente está repleta de paz e força. Não há nada além de silêncio e luz etérea, que é claramente visível quando nossos olhos estão ligeiramente abertos. Esta seria a experiência mais próxima do estado incorpóreo enquanto estamos no corpo. Nós ascendemos na consciência da alma para ter um encontro com o Supremo e retornamos tendo absorvido algumas de suas qualidades e poderes.

No entanto, o mundo aguarda a vinda de Deus. No início do século XXI, apesar de todas as maravilhas do mundo moderno e da ciência, as pessoas ainda esperam por uma intervenção divina para nos salvar do caos.

Todas as tradições religiosas falam sobre um retorno do Divino. Enquanto muitos buscam e anseiam por Deus, outros acreditam que um Messias ou um Buda aparecerá antes do fim dos tempos. A Bíblia sugere que ele virá incógnito, “como um ladrão na noite”. Então, podemos pensar: como ele faria para sua presença ser sentida e para ser reconhecido – e aceito – por almas de todas as religiões, de todos os cantos da terra?

Muitas pessoas experimentam contato com o mais sutil dos Seres por meio da meditação ou da oração. Isso acontece sem estrondos ou exibições – Deus não precisa de um grande show. Suas vibrações são de quietude e silêncio profundo, e nos sintonizamos para ser capaz de captá-las. Portanto, tente pensar qual seria a razão pela qual Deus “deixaria seu trono no céu” e viria até aqui a não ser pela necessidade de nos ajudar.

Na Índia existe a tradição do Avatar ou “encarnação”. Algumas histórias sugerem que Deus precisa usar uma “carruagem humana” – um corpo – para se manifestar e dar conhecimento. A carruagem também é conhecida como bhagirath – o instrumento afortunado.

Outro memorial é o diálogo simbólico entre o Supremo e a alma humana, que é o cerne da escritura mais amada da Índia, o Bhagavad Gita – “a Canção Divina”. Seus belos ensinamentos retratam as dúvidas e obstáculos enfrentados quando se está no caminho da autotransformação.

Neste épico, uma das tarefas de Deus é ajudar os heróis em seus esforços para domar seus cavalos – representados graficamente pelos cinco sentidos da visão, tato, audição, paladar e olfato. Gradualmente eles aprendem como ir além da percepção física para se conectar com o Divino.

Transcender nossa identificação com a matéria e as coisas físicas, e ser amoroso e desapegado nos relacionamentos é a base dessa história. O desapego do ego e de concepções ultrapassadas é apontado como o caminho para a conquista da mente, que é a última etapa dos ensinamentos. E eles repetidamente relembram que Manmanabhav – manter a mente focada no Único – é o meio para receber poder e apoio espiritual.

A necessidade de superar o eu limitado e renunciar desejos pessoais a fim de obter tesouros espirituais é o tema subjacente da literatura religiosa. Parece que chegamos ao ponto em que olhar para nós mesmos não é mais opcional.

Talvez o aspecto Avatar de Deus seja revelado por aqueles que foram tocados por sua luz e transformados por meio de seu conhecimento e poder. Ele pode então se tornar visível através dos rostos e ações de pessoas comuns que se envolveram na proeza extraordinária de domar seus cavalos selvagens. A luz de Deus é capaz de transformar humanos em anjos.

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