Observador Desapegado

Algumas culturas são mais abertas às coisas do espírito do que outras. Hoje em dia poucas pessoas têm tempo ou interesse em explorar experiências espirituais ou refletir sobre a natureza divina. Para alguns isso é irrelevante, outros consideram uma pretensão, enquanto que aqueles com conceitos arraigados não querem ouvir nada que possa ir contra seus pontos de vista.

Mesmo que para o indiferente nada disso tenha importância, e que não seja sensato falar com o convertido, o verdadeiro buscador estará sempre aberto a novas experiências.

Gosto de imaginar a perspectiva daquele que vive além deste mundo, quando Ele observa seus filhos indiferentes, dogmáticos e buscadores. É quando sua face de Observador Desapegado fica mais clara, pois não poderia haver atitude melhor do que ser constantemente amoroso e, ainda assim, totalmente desapegado.

A capacidade de não julgamento e o desapego emocional são certamente qualidades divinas que podemos aprender, já que podem nos ser úteis em muitas circunstâncias. Mas vamos ser claros – desapego não tem nada a ver com frieza ou insensibilidade. Na verdade, desapego é o equilíbrio perfeito para o amor. Em um estado de desapego, há estabilidade, amor-próprio e poder interior, e a pessoa não é afetada pelas oscilações ou projeções dos outros.

Paradoxalmente, essa também é uma qualidade com o qual poucos simpatizam. Quando existem questionamentos em relação à existência de Deus, ou incompreensão com relação ao seu modo de atuação, frequentemente isso está relacionado ao desconhecimento dessa virtude.

Deus entende com precisão – não pelos livros, escrituras ou teorias, mas pela observação direta – como, em todos os momentos, a lei invisível do carma se desdobra, atuando em vários níveis e criando ondulações em nossas vidas pessoais e eventos mundiais. Seja no amor ou na dor, não há ação sem reação, nem resultado sem esforço.

Seu papel como Observador Desapegado é, portanto, um aspecto de sua sabedoria. Mesmo o Ser Supremo está sujeito às leis que governam e regulam a vida neste planeta. Isso significa que mesmo se Ele quisesse impedir alguém de cair – e Ele às vezes faz isso – a alma continuaria a ser guiada por sua própria vontade, e um dia encontraria seu destino. Em casos específicos, a energia de Deus pode curar um doente, mas a pessoa pode continuar com sua atitude doentia. Quando se trata de realidade espiritual, as coisas não são tão evidentes e simples; temos que considerar aspectos invisíveis.

Por isso necessitamos de toda nossa capacidade, força de vontade e determinação para nos libertarmos da teia cármica que criamos em nossas vidas. Responsabilidade pessoal é uma das primeiras realizações no processo de despertar espiritual.

É sabendo que tudo será automaticamente resolvido por meios naturais que Deus, como Observador Desapegado, pode permanecer sempre inalterado e despreocupado. Ele é capaz de ver benefício onde vemos apenas dificuldade, pois sabe que podemos remodelar nossa personalidade e recuperar nossa verdade interior se tivermos determinação para isso.

Da mesma forma, sendo despreocupados e desapegados poderemos avaliar e julgar com precisão e, assim, nos tornarmos um instrumento de ajuda para muitos outros.

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