O Incorpóreo

Dualidade e não-dualidade são conceitos diametralmente opostos que têm sido objeto de discussões filosóficas há séculos. Eles têm como base reflexões e suposições sobre a verdadeira natureza de Deus.

Na dualidade, o Ser mais elevado é considerado como existindo separado de nós, humanos e do mundo natural. Acredita-se que ele tem consciência, inteligência e características próprias, e é capaz de se revelar quando e para quem quiser.

Na não dualidade – também conhecida como Advaita – acredita-se que Deus é imanente na Criação. Isso significa que ele estaria presente em um nível invisível, não apenas em nosso eu superior, mas também no mundo natural. Ele estaria meio que escondido no interior de tudo, em humanos e animais, seixos e pedras.

Por alguma razão, esta última abordagem ganhou popularidade entre estudiosos e mestres espirituais, e não é difícil pensar por quê. É fato que, quando em contato íntimo com a luz divina, há o sentimento de unidade, como se temporariamente, a orbe radiante de Deus fizesse parte da alma.

Um sentimento semelhante ocorre quando lembramos profundamente de alguém próximo, e atraímos e fundimos a imagem e vibração da pessoa. Por isso, o sentimento de proximidade criado pela “onipresença” é tão similar quanto “Aquele por quem eu tenho procurado está lá, esperando para me encontrar”. Sentimentos e realidade são, no entanto, coisas bem diferentes.

Assim como na ciência, onde tantas coisas continuam a ser descobertas e esclarecidas, esse aspecto fundamental da natureza divina deveria merecer atenção e pesquisa semelhantes. Precisaríamos ir além dos limites do sentimento para verificar o que é de fato verdadeiro através da experiência direta. Mesmo se considerarmos apenas a lógica e a compreensão das leis naturais, podemos perceber que o conceito de onipresença implica que Deus também estaria sujeito às leis de ascensão e decadência, à perda de energia (entropia). Qualquer alma nesta condição não poderia dar a experiência de ser uma fonte eterna de força e apoio.

O conhecimento da perspectiva cíclica do tempo e da dinâmica cármica é importante aqui. Quando entramos no ciclo de nascimento e renascimento, não há como ficarmos imunes aos efeitos de nossas ações, mesmo no nível mental. Se Deus estivesse realmente entrelaçado conosco, humanos e matéria, seria impossível que sua energia e sabedoria viessem nos resgatar em qualquer nível. Esse é apenas um aspecto.

Este assunto merece um olhar mais detalhado e muito mais páginas. O fato de a não-dualidade estar tão difundida entre meditadores tornou mais difícil a conexão com o divino e as experiências yogues profundas. O conceito de união – que é o próprio significado da palavra yoga – pressupõe duas partes, e tem origem na experiência dessa conexão espiritual entre o ser humano e o Supremo.

É claro que não precisamos de mais retórica e filosofia neste momento. O que realmente importa é ter experiências que nos preenchem e transformam. Cabe a nós, portanto, testar as duas abordagens e descobrir qual delas funciona.

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